A memória é uma das funções cerebrais que formam nossa cognição. Desperta muito interesse na população, e também nos cientistas, pois é através dela que podemos reviver experiências passadas que nos ajudam a experimentar o presente e também a nos projetar no futuro. A memória é componente essencial na história de vida de cada um, e de certa forma nos define como indivíduos.
O que chamamos de memória é na verdade um complexo sistema de "memórias", que funciona de maneira integrada a outros domínios cognitivos, como atenção, linguagem e planejamento de tarefas. Essas memórias podem ser dividas quanto a duração: memórias de curto e curtíssimo prazo, ou memórias de longo prazo. Quanto ao conteúdo: memórias auto biográficas, memórias de conhecimentos gerais, de vocabulário, visuais e até mesmo de movimentos corporais. Lembra daquela história que andar de bicicleta ninguém esquece?
Por ser a memória tão importante em nossas vidas, qualquer dificuldade relacionada a ela causa preocupação. De fato, a partir dos 50 anos de idade, é bastante comum - e na maioria das vezes perfeitamente normal - que surjam pequenos "lapsos de memória" para questões do dia a dia. Esses "lapsos", muitas das vezes estão relacionados a prejuízo na atenção, que não permitem a fixação adequada daquele conteúdo que se deseja guardar para uso futuro. Embora incômodos, em geral não trazem maiores dificuldades para as atividades corriqueiras.
No outro extremo, há doenças relacionadas a degeneração precoce do cérebro que causam déficits profundos na memória e outras funções cognitivas, com consequente comprometimento nas atividades do cotidiano. A mais comum, conhecida e temida delas é a Doença de Alzheimer. A perda de memória é a característica mais marcante na apresentação típica da doença, mas outros sinais, como alterações de humor e comportamento podem estar presentes já bem no início do Alzheimer. O diagnóstico precoce é muito importante, pois quanto antes iniciado o tratamento, mais qualidade de vida a pessoa acometida pela doença terá.
Embora ainda não exista cura - a despeito de promessas milagrosas que vez ou outra brotam nos meios de comunicação - existem tratamentos cientificamente comprovados que podem ajudar a retardar a progressão da doença e até mesmo recuperar parte das funções cognitivas perdidas. Em fases mais avançadas, o tratamento adequado ajuda muito no controle de alterações comportamentais que geralmente ocorrem. E aqui não estou falando apenas de medicação, mas de diversas intervenções que podem ser postas em práticas por uma equipe multiprofissional adequada, tanto em ambiente domiciliar, quanto em instituições especializadas no cuidado com idosos.
O risco para Doença de Alzheimer começa a aumentar de maneira significava a partir dos 65 anos de idade. Quem tem algum familiar de primeiro grau com a doença tem risco duas vezes maior. Assim, o melhor remédio continua sendo a prevenção. As evidências científicas mais robustas apontam a atividade física (caminhar 40 minutos por dia, 5 vezes por semana já é suficiente) e a estimulação cognitiva (aprender o máximo possível ao longo da vida) como os maiores fatores de proteção contra o Alzheimer. Doenças crônicas como hipertensão, colesterol alto e diabetes também são fatores de risco, e quem as possui, deve se esforçar ao máximo para mantê-las sob controle. Afinal, o que lembramos e o que somos tem muita importância.
Dr. Vinicius Faria
Psiquiatra e especialista em Psiquiatria do idoso pela Universidade Federal de São Paulo.
CRM-SP 145.761 / RQE 57488-1