Estamos observando que, por onde olhamos, temos cada vez mais idosos nos ambientes, seja nas ruas, shoppings, cinemas, restaurantes e empresas. Isso ocorre pelo fato da inversão da pirâmide etária ter se intensificado no Brasil, de forma muito rápida, nos últimos anos.
É fato que nosso país não está preparado para acolher a pessoa idosa de forma completa e digna, havendo, ainda, muitas medidas a serem tomadas, seja no âmbito de políticas públicas, seja no âmbito pessoal e familiar.
A falta de preparo, do Estado ou pessoal, faz com que não consigamos entender e lidar com as necessidades dos nosso idosos.
A população está envelhecendo, em maior volume e em maior velocidade, e, felizmente, com mais saúde e qualidade de vida.
Falando em saúde e qualidade de vida, chegamos ao ponto que eu, Raquel, gostaria de abordar no presente texto, a tão falada “qualidade de vida do idoso”.
Observo nas minhas atividades diárias que, cada vez mais, as famílias apresentam “queixas” relativas aos idosos que convivem em seus seios familiares. Muitas vezes referidas “queixas” são construtivas, de quem ama e se preocupa, como, por exemplo, sentimentos de pesar por ver seus pais, mães, avôs e avós passarem longas horas em frente à TV, sem atividades, levando à reclamações acerca do atual estágio da vida.
Primeiro, precisamos entender nossos idosos, entender suas angústias, aflições, medos, dores, inseguranças, necessidades e, principalmente, vontades.
Quando crianças, somos cuidados por nossos pais, entramos na escola, fazemos amizades, fazermos parte de um grupo. Esse é um fator crucial, fazer parte de um grupo.
Vamos crescendo, entramos no mercado de trabalho, casamos, constituímos família, temos filhos, e continuamos fazendo parte de um grupo. Temos responsabilidades, produzimos algo, somos “importantes”, seja no trabalho, seja em casa.
Com o tempo, envelhecemos, aposentamos e muitas vezes ficamos viúvos. Pronto, e agora?
Não trabalhamos mais, não nos sentimos mais úteis para nada, nos sentimos sós, não nos sentimos mais fazendo parte de nada e de nenhum grupo. Às vezes, nos sentimos, até mesmo, “um estorvo”.
Temos medo de cair, da solidão, de esquecer de tomar os remédios necessários, mas não queremos “incomodar” nossa família, uma vez que todos estão “muito ocupados”. Então, vem a solidão, a tristeza e o desânimo vai tomando conta daqueles cabelos brancos.
Percebemos que, com o passar do tempo, ficam somente as boas lembranças e as histórias – e como é bom contar histórias. Infelizmente, por não ter novas e recentes histórias, o idoso fica repetindo as histórias que a memória permite lembrar. O idoso sabe que, muitas vezes, é repetitivo, que irrita os seus filhos e netos com as mesmas histórias, mas, é a única forma dele se sentir vivo.
E as famílias?
As famílias, muitas vezes, se preocupam, levam os seus idosos para passear, contratam cuidadores, mas o tempo é curto, temos que trabalhar, cuidar dos filhos, marido ou esposa, dentre outras atividades.
Então, pessoal, listarei algumas dicas que entendo que são importantes para as famílias na convivência com seus idosos.
1- A primeira dica é tentar entender como o idoso se sente com relação à vida. Perguntar a eles quais são suas atuais vontades, medos, preocupações, inseguranças, enfim, mostrar que ele não está sozinho e que pode contar sempre com os familiares. Mostrar que ele não é um “estorvo”, que é muito importante, muito amado e que todos farão de tudo para vê-lo feliz. Se não for possível verbalizar esses sentimos, demonstre por meio de gestos e atitudes diárias.
2- Fique atento com a memória do seu idoso, se ele está tomando os medicamentos corretos, nas horas corretas. Fique de olho se ele ainda é capaz de pagar as suas contas e cuidar de seus compromissos, mas, muito cuidado para não constrange-lo ao perguntar coisas desse tipo. Essa é uma fase delicada para ambos.
3- Tente inseri-lo em um grupo, seja em um centro de convivência para idosos, seja em um grupo de jogos, academias, escolas especializadas, clubes. A aceitação não será fácil. Tudo que é novo é difícil de encarar, entretanto, lugares especializados no acompanhamento diário do idoso são extremamente benéficos a eles, uma vez que encontrarão outras pessoas da mesma idade, fazendo com que se sintam parte de um grupo e possam trocar experiências.
4- Se for necessário contratar um cuidador, tenha atenção em contratar um profissional qualificado e sempre ouça as sugestões e reclamações do seu idoso relativas ao profissional escolhido.
5- Cuidado com a baixa ingestão de líquidos, pois, os idosos, tendem a diminuir a sua ingestão por 02 motivos. Primeiro, a sede é menor nos idosos, o que faz com eles se esqueçam de tomar água. Segundo, devido à incontinência urinária, que é muito comum na terceira idade, eles rejeitam o líquido com medo de “perder” urina, “não dando tempo de chegar ao banheiro”.
6- Adapte o ambiente para seu idoso. É muito importante que a casa dele seja segura, sem tapetes, bem iluminada, com barras – principalmente nos banheiros – para que ele possa se locomover com mais segurança e tranquilidade. Deixe, sempre ao alcance dele e com letras grandes, os números de telefones de todos os familiares para o caso de eventual urgência.
E, nunca se esqueça que, se tudo der certo, um dia você também será idoso. Então, vamos ter paciência, boa vontade e muito amor pelos nossos cabelinhos brancos!
RAQUEL ZOTTI ROCHA SERVIDÃO (CREFITO-3/ 134088-F)
Fisioterapeuta, especialista pós-graduada em Fisioterapia Cardio-Pulmonar pelo HC-USP de Ribeirão Preto. É sócia do Fiusa Day Care – Centro de Convivência para Idosos, em Ribeirão Preto – SP, e fundadora do Instituto Envelhecer.
Adorei seu comentário tudo nos faz crescer.